quinta-feira, 7 de abril de 2011

Morocco

Já faz quase um mês que voltei do marrocos, estava ancioso pra escrever aqui um pouco sobre o lugar as pessoas e a comida, lógico. Mas só encontrei agora um tempo para recolher-me no meu quarto, ouvindo o New Morning de Dylan enquanto vou lembrando das imagens, dos sons, das comidas e da “aura” do lugar.

Disse no post passado que quando chegamos na medina e começamos a procurar o nosso hotel a euforia inicial deu lugar a uma tensão, um certo medo de estar em um lugar diferente, com aquelas milhares de pessoas vendendo coisas e andando de um lado para outro e nos respondendo sempre uma direção nova quando perguntavámos pelo nosso hotel. Permitam-me apresentar cada um de nós.Eu e Bruna de João Pessoa, o espanhol que conhececemos no avição e que já tinha estado em marakesh uma ou duas vezes , duas paulistanas estudantes de jornalismo, um maluco de Taubaté que faz história como eu e um mais maluco ainda de brasília que faz teatro.Todos começaram a ficar muito perturbados à medida que escurecia e continuávamos com nossas mochilas na costas andando de um lado para o outro, eu fiquei um pouco chateado com o pessoal quando percebi que o problema não era nas informações que nos davam e sim com nossa incapacidade de acreditar no que diziam. Vou explicar.Não sei como e nem com quem começou, mas percebi que toda vez que alguém me dizia o caminho, os outros brasileiros me diziam para não acreditar e simplesmente faziam o contrário.Por exemplo, um senhor tinha me dito: vão em frente e dobrem na primeira esquerda.Fomos em frente e antes de dobrarmos a esquerda alguem falou que não era por aqui e melhor voltar. MINHA NOSSA, como eles sabiam que não era por aquele caminho, e o que poderia dar errado se tinha milhares de pessoas por todo lugar? “Se você está em um algum lugar que você não conhece, você tem que escolher acreditar nas pessoas locais, pelo menos um pouco” desabafei para alguém no outro dia.Achamos nosso hotel ( sim, era no local onde tinha me dito), estávamos cansados e com fome. Deixamos as bagagens e saimos para jantar e de novo a mesma “nóia” do pessoal.Ao redor da Place Jamaa el fina, tem uns restaurantes estilizados daqueles feitos para turistas( é estranho falar isso, porque marrakesh vive de turismo) mas esses tem varandas e as pessoas ficavam tirando foto da medina lá de cima, coisas do tipo.Enquanto decídiamos onde iríamos jantar ( já era perto das 22h00) um senhor se aproximou de mim e puxou conversa, perguntou de onde eu era(eu estava um pouco afastado do pessoal), disse que era do brasil e ele ficou super feliz e falou sobre...sim, sobre futebol, hehe. Eu estava com um barba considerável e ele me disse que eu parecia marroquino, ao que imendei com “mas eu tenho ascendencia argelina por parte de pai” – se é verdade? Não sei, mas meu pai me conta que os bisavós dele vieram da argélia - ele riu mais ainda e disse “então somos irmãos”. Apontei para o restaurante que pensávamos em comer e ele disse que era restaurante para turista americano e que não era muito bom, era tipo mcdonalds. Velhinho simpático, ele me disse que tinha com restaurante perto que era buffet à vontade ( nem preciso dizer que não consegui segurar o sorriso né?) por 8 euros, e era a verdadeira cozinha marroquina, feita pelas mulheres em panela de barro. Ele fez questão de frisar que era feita por mulheres e não por “chefs” homens que pensam a cozinha como ciência. Me aproximei do pessoal e disse que o senhor ali ía nos levar num restaurante que tinha buffet, eles concordaram meio com medo e disseram em “ok” meio temeroso. Fui na frente conversando com o velho senhor e ao mesmo tempo que ele me dizia que não iria me cobrar por isso e que estava nos levando apenas pelo prazer de nos mostrar a verdadeira cozinha marroquina, um dos nossos me chamou e disse “ esse velho vai nos cobrar por isso, cuidado” hehehe, e eu disse, não vai não. Ele não nos cobrou ( mas isso é comum no marrocos, os favores que algupem faz várias vezes não são favores mas contrato de serviços, mesmo que só fiquemos sabendo disso depois, haha).Sobre o nosso primeiro jantar? Delicioso, couscous, tajine, uma sopa deliciosa, sobremesas, frutas, pão e mais um monte de coisa. Satisfeitos, todos dormem. Primeira manhã, ensolarada, começa com um café da manhã da cobertura do prédio do hotel. O suco de laranja mais gostoso que eu já tomei. Saímos para a medina e , como na noite anterior, muita, mas muita gente.Estávamos num país árabe e mesmo com toda a abertura ao ocidente, estabelecemos que as meninas iam andar sempre conosco, nada de mulher sozinha andando por aí ( o que depois se mostrou desnecessário pois vimos vários grupos só de mulheres marroquinas, inclusive sem véu). Chegando na praça Jamaa el Fina( era bem perto do hotel, tipo, 1 minuto andando como baiano) já avistei um monte de tendas com cobras e pessoas tirando foto segurando e se enrolando nas cobras, preciso dizer que as meninas quando viram isso começaram a gritar de medo e se afastar da gente.Eu e mais os outros dois brasileiros fomos em direção a uma dessas tendas para tirar foto com as cobras, sim, éramos os típicos turistas idiotas de primeira viagem, olhavámos admirados para todos os lados, não escondiamos os sorrisos, é claro que íam nos cobrar aquela grana para tirar foto.Não adiantou dizer que era brasileiro, quando terminou a sessão de fotos eles começaram a pedir uma ajuda para sustentar a família e nessa hora, o que antes eram umas 3 pessoas, de uma hora pra outra passa para umas 12, juro, não sei como apareceu tanta gente tão rápido...Pagamos, quer dizer, ajudamos a família e saímos andando. Saímos da medina e fomos andando pela cidade, chegamos em outra praça com um jardim simpático e com uma mesquita enorme que só os homens podiam entrar, não entramos. Continuamos andando,fomos pra outro jardim com um monte de pé de laranja cheio de laranja que não presta pra comer porque é azeda, muito azeda...

No outro dia saímos de 7 horas da manhã para um excursão de dois dias pelo atlas (foto de cima), por algumas cidades como Kasbah(foto de baixo) deserto de zagora ( acho que é isso, é o começo do saara e se eu não me engano foi onde foi filmado tatooine em Star wars) ,dormimos nesse deserto, em um acampamento montado pelo pessoal local. Nem é muito longe da cidade, na verdade a gente pára nessa cidade e pega uns camelos ( só porque tava incluido no pacote da excursão) e anda uma hora de camelo até chegar nesse acampamento.Na volta desse passeio a gente passou no museu do cinema, mas...

nem deu pra entrar, não sei nem porque, eu tava com fome mesmo e só queria almoçar. Alguns filmes, como Babel, Prince of Pérsia e Star Wars tiveram cenas filmadas no Marrocos, eu conversei com um senhor e uma das cidades que a gente parou e ele disse que atuou em Prince of Pérsia junto com Ben Kingsley, Nossa!!

Bom, é isso, depois a gente voltou pra marrakesh, ficou mais perambulando pela medina e ainda fomos no Jardin Marojelle e no memorial Yves Saint-Laurent, nem deu pra ir nos palácios e nas outras coisa históricas que tem marrakesh, mas, essa foi a primeira, ainda quero voltar lá sim. Mas digo logo, pra quem quer uma viagem tranquila, não vá pro marrocos, você tem que ficar ligado sempre, não é que vão lhe roubar, mas tão sempre insistindo pra olhar as coisas e comprar e quando sabem que você é brasileiro pedem logo pra você dar-lhes de presente a camisa da Seleção ( eu tinha levado a minha e planejava usar-la, ainda bem que não o fiz). Ah, bom aprender em árabe: LA CHUCRAN , quer dizer, não obrigado!

Chucran!

quinta-feira, 17 de março de 2011

Marseille, Madrid, Marrocos.

Tudo começou quando Renata mandou uma sms de paris dizendo que tinha visto uma promoção da ryanair com uns vôos bem baratos. Falei com alguns amigos aqui da residência e a gente se organizou para ver que vôos baratos eram esses....enfim, terminamos comprando passagens para Marseille, Madrid e Marrakesh. De repente, seria a viagem dos três "emes", mas isso é só um detalhe e eu prefiro falar de detalhes quando estiver falando sobre o Marrocos.

Pegamos o trem pra Marseille numa sexta-feira bem cedinho, estávamos em sete. À medida que o trem “marchava” para o Sul podíamos ver as xerófilas anunciando a chegada ao Mediterrâneo. Chegando na gare já pegamos o metrô em direção à Vieux Port, que era onde íriamos nos hospedar. Ahh, que felicidade foi olhar os barcos e contemplar o mar, o cheiro de maresia e de peixe. O pessoal foi logo pro hotel e eu fui andar pelo cais, “ziguezazeando” pelas ruazinhas tranversais, olhando cada lugar, o pequeno teatro popular, a escola de circo para crianças, os restaurantes tailandeses, indianos, vietnamitas, turcos, de repente, os restaurantes chineses e japoneses pareciam os mais próximos da cultura nossa.

Essa área da Vieux Port é um braço do mar, uma invaginação para dentro da cidade, formando uma espécie de “U”. Caminhando pelo lado esquerdo do cais, avistei uma estrutura antiga que – pensei, com o pouco de lógica historiográfica - devia ser um forte. Acertei, e como acertei. Subi uma escada enorme e a recompensa foi um jardim de onde podia ver uma boa parte da cidade e, o melhor, tinha um banquinho perfeito para um bom cochilo.Dormi. Rola uns boatos que Marseille é perigosa pra dormir e que você pode ser roubado enquanto dorme, mas não foi bem o que ouvimos de um cidadão que estava morando na cidade. Ele disse que já dormiu numa praça em Vienna uma vez e acordou sem nada, outra vez ele dormiu em uma estação de trem em Barcelona e também acordou sem nada, mas na vez que ele dormiu em Marseille acordou com um cobertor, haha!

Enfim, almoçamos, demos um cochilo à tarde e saímos à noite. Lindo, pessoas na rua, muitas pessoas nas ruas, os bares lotados, todo mundo rindo e os barcos nos vigiando. Adorei - aliás, adoramos todos. Mesmos os nosso amigos paulistas que desconhecem as boas vibrações que um mar é capaz de trazer para nossas almas, sentiram essa magia praiana, mediterrânea.

Partimos para Madrid no outro dia ,no começo da tarde, sem muitas expectativas, todo mundo falava que Madrid era apenas “oukay” e que O Lugar na Espanha era Barcelona. Mas foi bom essa expectativa diminuta. Iríamos ficar em Madrid só por um dia e no outro já partir para Marrakesh.

Nesse sábado que passamos em Madrid fizemos uma escolha arriscada, decidimos não pegar hospedagem, mas deixar as nossas malas no hotel que Renata estava hospedada, curtir madrid e dormir no aeroporto na manhã seguinte já que o nosso voô para Marrakesh estava marcado para às 16h00 do domingo.

Pois bem, Madrid! A primeira impressão foi : que tanta gente é essa na rua? Tudo bem, era um sábado e estávamos no centro, mas mesmo assim, era muita gente andando de um lado por outro. Não parecia Europa, aliás, não parecia a França, era diferente, parecia com o centro de João Pessoa ou com a Avenida Paulista.Jantamos uma paella legal, mas era pouca, pra mim isso foi um problema que seria resolvido logo mais no Burger King Com o anoitecer e a chegada da mardugada algo estava muito estranho, as pessoas continuavam na rua, muitas pessoas. 2 da manhã, 3 da manhã, 4 da manhã ( fazia 4 graus eu acho) e as pessoas continuavam na rua .. MINHA NOSSA, “vão pra casa madrilenhos” eu gritei a certa altura com um misto de raiva, felicidade e surpresa. Era carnaval, tinha pessoas fantasiadas gritando e pulando de um lado para o outro. Perguntamos para alguém na rua se era sempre assim cheio de gente nas ruas ou isso era por causa do carnaval, nos responderam que de quinta a domingo era sempre assim... Em algum momento da noite ouvimos uns batuques familiares e seguimos o som: era um bloco de carnaval brasileiro com uma porrada de gente seguindo e tirando foto, foi legal, era uns axés sem graça, mas nessas alturas foi bom ouvir algo da sua terra. Sério, às 5h30 da manhã quando fomos pegar nossas malas para ir pro aeroporto (o metrô de madrid pára de 1h30 e volta a funcionar às 5h30) ainda tinha muita gente na rua, tipo, muita gente mesmo.

Fomos para o aeroporto, dormimos em algum saguão, havia várias pessoas dormindo também .Acordamos, fizemos o visa check, embarcamos para Marrakesh...

Havia chegado na África. Não tinha pensado nisso até então, eu estava na África. Nossa, obrigado meu Deus por ter me concedido essa oportunidade com tão pouca idade. Percebemos que éramos de fato privilegiados, a maioria dos turistas eram pessoas de mais idade, e poucos eram os jovens. Mas, voltando...

Assim que chegamos em Marrakesh trocamos nosso euros pela moeda marroquina, dihram -a quem interessa a cotação, 1 euro estava 11,45 dihrans - .

Marrakesh, que lugar lindo, diferente, com sua cor carcterística, todos os prédios e casas são pintados da cor da areia, acho que tem uma lei pra isso. Pegamos um ônibus do aeroporto até a medina, onde tínhamos reservado o hotel. Gente, gente, gente demais. Foi uma sequência, Marseille tinha bastante gente nas ruas perto do cais, Madrid tinha gente nas ruas o tempo todo, mas quando chegamos na medina vimos aquelas milhares de pessoas andando, vendendo comida, vendendo coisas em geral. Estávamos no coração da cidade, e ele pulsava, dava pra ouvir e sentir.As primeiras mulheres de burca me lembraram que eu estava num país árabe. Andava maravilhado,aliás, não só eu, mas todos nós. Ahh, bom lembrar, éramos sete em Madrid, mas Renata não viajou conosco para o Marrocos porque foi pra Valencia com o namorado, no entanto conhecemos um espanhol muito gente boa no vôo que ia para Marrakesh e ele nos ajudou bastante, pois já conhecia a cidade e sabia mais ou menos onde era nosso hotel. Estava díficil encontrá-lo (o hotel), perguntávamos e cada um dizia uma coisa diferente, nossa felicidade inicial deu lugar a um nervosismo compreensivel...

Vou parar por aqui, o marrocos merece um post só pra ele!

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Le vieux et le nouveau

Aos amigos: desculpa a demora.Aos demais: seguirão nas próximas postagens um pouco da vida e impressão que este que vos escreve está tendo em lyon.
Então, desde o primeiro momento que cheguei aqui percebi de imediato o contraste entre o novo e o velho. Entre as ruínas do tempo galo-romano e os modernos meios de transporte;entre as igrejas da idade média e uns prédios de arquitetura moderna;entre as fachadas antigas das casas e prédios e as máquinas de café que você coloca moeda e rende troco, seleciona a quantidade de acúcar, cai o copo e voilà, sua bebida está pronta.Lyon é uma cidade antiga, é uma cidade moderna, é uma cidade verdadeiramente européia, é limpa, mas não livre das milhares de piolas de cigarros que as pessoas jogam nas ruas.Curioso, não há muitos cestos de lixo público.
As pessoas.Lyon é uma cidade plural, vindas dos mais diferentes lugares, não apenas por ser uma cidade universitária, mas por ainda ser uma cidade com um mercado de trabalho ainda em crescimento, diferente de Paris que anda esgotado.No ônibus você escuta várias línguas diferentes: francês, português, chinês, lingala, inglês, espanhol, italiano.As pessoas não estranham tantas diferenças, ou pelo menos não demonstram.
Nos primeiros dias aqui, eu não conhecia bem a cidade, onde era a universidade ou os pontos de metro, então era na base das perguntas.Ainda travado no francês, tínhamos que dar a cara a tapa e dava certo.Sobre os lioneses: super simpáticos, super atenciosos e bem-humorados.
Lyon é linda, principalmente a noite quando as luzes harmonizam com os prédios, as pontes e as igrejas.As ruas da Vieux Lyon ( parte antiga da cidade onde tem um monte de restaurantes, bares e pubs) são tão lindas que da vontade de ficar nelas e não entrar nos lugares, mesmo com o frio.Outra parte da cidade bem legal a noite é ao redor da Hotel de Ville ( a prefeitura da cidade), tem muitos bares, pubs e restaurantes também.É nesses dois lugares que as pessoas mais saem a noite.Não tenho saído muito, mas as vezes que fui foram bem legais.Domingo ultimo eu fui pela primeira vez em um bouchon lyonnais ( comida típica de lyon) depois de ter visto no instituto Lumière um filme de Hitchcock, Vertigo.Tá rolando um festival em homenagem a ele, do tipo, acho que todos os filmes dele terão sido mostrados até o final do festival.
Ahh, a comida.Só tenho ficado cada vez mais inebriado com a gastronomia e os vinhos franceses.Seja nesse bouchon, seja nos jantares que uns amigos lioneses nos convidam, seja na casa dos meus tios e primos em Chalon sur Saone ( uma cidade ao norte de lyon), em todos, comemos muito bem, salada, o prato principal, o queijo, os vinhos, as sobremesas.Quase duas horas de jantar, delícia.Os franceses comem super bem, super bem mesmo.Eu achava que ía sentir falta do feijão e da farinha, até sinto, mas tô bem acompanhado em termos gastronômicos.
Há duas semanas fui no jogo do Olympique Lyonnais e do Bordeaux, tipo, clássico do campeonato francês, no estádio do Lyon, o Gerland.O jogo foi fraco, Michel bastos não jogou bem e Cris, apesar de idolatrado pela torcida, também não comandou o time direito.Lisandro lópez, o atacante também não jogou bem.O bordeaux conseguiu ser mais fraquinho ainda.Enfim, valeu pela torcida que é muito, mas muito empolgante.E o estádio é muito legal, o campo é bem pertinho.
Por enquanto fico por aqui, até mais!


quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

O díficil é ser simples...

...alguém já disse isso, não sei dizer se é uma afirmação creditada a alguém específico, mas sei que não sou o primeiro a formular essa frase, apesar de ter chegado a essa conclusão, digamos, de forma autônoma.

Seria como se a civilização trouxesse consigo um vírus social, capaz de alterar a ontologia do ser humano de uma natureza objetiva, instintiva e "descomplicada" para uma natureza subjetiva e contraditória.E a contração desse vírus se deu através da reflexão e da desmistificação, características intrínsecas ao processo civilizatório.Augusto dos anjos entende bem o momento dessa transformação, aqui:


A Idéia

Augusto dos Anjos


De onde ela vem?! De que matéria bruta
Vem essa luz que sobre as nebulosas
Cai de incógnitas criptas misteriosas
Como as estalactites duma gruta?!
Vem da psicogenética e alta luta
Do feixe de moléculas nervosas,
Que, em desintegrações maravilhosas,
Delibera, e depois, quer e executa!

Vem do encéfalo absconso que a constringe,
Chega em seguida às cordas do laringe,
Tísica, tênue, mínima, raquítica ...

Quebra a força centrípeta que a amarra,
Mas, de repente, e quase morta, esbarra
No mulambo da língua paralítica.

essa verdade nos fez conhecedores da nossa própria doença, talvez, do motivo pelo qual teria sido melhor não comer do fruto da arvore do conhecimento do bem e do mal.
Não estou aqui levantando a bandeira da "barbárie" e desprezando nossas conquistas civilizacionais, não, não posso fazer isso, pois, se não fosse esse salto evolutivo, não teríamos o que hoje denominamos arte.
E é o artista, o verdadeiro artista, no sentido de arte pensado por Aristóteles, ou seja, arte como mímesis, como expressão dos sentimentos e dos afetos humanos, que consegue retornar e fazer-nos retornar ao nosso estado ontológico anterior, primitivo e original.Como? Descomplicando, tornando simples, recuperando o instinto, tudo isso, através da sinceridade da exposição dos sentimentos.

O que sentimos quando ouvimos uma cantata de Bach ou uma sonata de Bethoveen? o que sentimos quando vemos uma tela dos irmãos Le Nain ou quando ouvimos uma canção de cartola e a melodia suave de Bob Dylan.Nem me atrevo a dizer o que sinto, e acho que nem vale a pena fazer esse esforço.Uma coisa é tentar entender o signo linguístico de uma letra, através de um esforço semiótico, outra coisa é tentar entender o porque de eu me sentir de tal forma depois de ouvir invierno portenho de Astor Piazzola, eu digo o que acontece, eu choro, por quê? não faço a mínima idéia, e nem quero saber.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

A dialética da vida é isso, a vida.

Continuo seguindo apaixonado pela lucidez e pela sobriedade. E em cada passo desse caminho percebo cada vez mais sua estrutura, sua personalidade e suas contradições.

...em algum momento o pai prepara a toalha para o piquenique, a esposa traz os alimentos frescos, as frutas deliciosas, a melancia vermelha, o melão saboroso, a laranja doce, o limão que não existe, o leite para as crianças, chocolate para todos, o presunto e o queijo para os mais famintos. A esmola na consciência de um dia perfeito, um dia para a abstração.
A expectativa foi frustrada, veio a chuva, vieram os trovões, vieram os gritos umbilicais da quebra do espelho, do acordar do sonho e da perda da inocência. Veio o mundo, vieram os problemas, veio o mundo real, problemas foram criados. O contraste se apodera de todos os corações, os mais sensíveis percebem a contradição entre a euforia e o desespero, a tristeza e a felicidade, a fé e o ceticismo, o sorriso escandaloso e a lágrima sutil, o momento preciso e a eternidade vaga.Os tolos gritam "viva!", os sábios esperam a primavera, os bêbados esquecem, os profetas confiam, todos morrem.... todos nascem....

A luta têm me chamado a atenção em dias como esses.A luta entre a aurora e o pôr-do-sol, a luta entre o fluido e o concreto, entre a claridade e a penumbra, entre a fé e a razão, entre nós e eles, entre a suavidade e transcendência do som de uma flauta e a realidade e força do som de uma alfaia.
De repente não é uma luta, ou lutas, mas , de alguma forma, aprendemos dessa forma e isso continua em nós.Quem disse que é uma luta? Quem nos fez acreditar que isso é uma dissonância que precisa de resolução?Estamos presos à idéia de que existem coisas opostas, e essas coisas opostas estão em conflito, mas... por que não pensar de outro modo? Por que não pensar que a tristeza e a felicidade podem estar de mãos dadas? Tal como a fé e a razão? Tudo vai e tudo vem, a neve derrete, as flores nascem, as flores murcham, as folhas caem, os ursos dormem.

"Nasce o sol, e o sol se põe, e apressa-se e volta ao seu lugar de onde nasceu.O vento vai para o sul e faz seu giro para o norte; continuamente vai girando o vento, e volta fazendo seus círcuitos" (Eclesiastes 1:5,6)

Salomão pediu sabedoria, eu peço lucidez...e um pouco de sensibilidade pra sofrer e cantar, pra chorar e sorrir....


...obrigado.

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Falso Moralismo ou Machismo?

Os pós-modernos tem uma certa razão quando supervalorizam a interpretação, a hermeneutica em detrimento das fontes a partir de onde o discurso foi montado.Em alguns casos, por exemplo, pouco importa a exegese de um texto, se a interpretação dele, mesmo distorcida e tortuosa, se tornou senso comum ao longo de décadas e séculos.A memoria já foi construída dessa forma, não adianta mudar.Será? Qual o papel de um historiador amador como eu, com leituras esapassas e superficiais de autores como Foucalt, Michel de Certeau, Roger Chartier, Carlo Ginsbourg, etc..


Será que o nosso papel é apenas observar as interpretações e discursos serem montados de forma silenciosa como se tivessemos assistindo a um filme, sem nada poder fazer?Se agirmos dessa forma, não estaremos deixando de lado uma das características mais sublimes e particulares da História, que é a resignificação do acontecido? a resignificação da mémoria, reescrever a história a partir da crítica das fontes, dos fatos, proceder de forma investigativa, minunciosa, interpretando novamente, a partir de uma nova visão, a nossa.


Pois bem, por que tanto lero lero? E o que é que essas palavras acima tem a ver com o título?Nada e tudo, foi apenas um apanhado pra justificar o motivo que me ponho aqui a escrever essas proximas palavras sobre o CASO GEYSE DA UNIBAN.Escrevo aqui para registrar uma outra interpretação que tenho a respeito de tudo isso que está acontecendo aqui, agora, em tempo presente.
O fato: a aluna Geyse foi expulsa pela Uniban por causar tumulato ao usar roupa inadequada para o ambiente academico, ou seja, ela estava com um vestido muito curto que desconcentrava os professores, os alunos e deixava os gaúchos enjoados.Enfim, como nessas semanas nada que mereça destaque na imprensa aconteceu, nenhuma CPI, nenhuma celebridade morta, nenhuma cagada do PT, nenhuma catastrofe, nada, essa noticia se espahou, alcançou picos de audiencia, foram feitas piadas incessantes da maior parte dos humoristas brasileiros, até aí tudo bem, seguia minha vida normamente, apenas deixando as interpretações e os repudios coletivos serem feitos, e concordando com todos.
Mas, uma coisa me chamou a atenção, isso: http://educacao.uol.com.br/ultnot/2009/11/11/ult105u8882.jhtm . Então, não consegui me calar e apenas assitir a tudo isso sem deixar registrado pequenas considerações.Antes de qualquer coisa, quero deixar claro que endosso o que a estudante Luana Gaudad, 20 anos, estudante de serviço social e militante do Klaus, do grupo da causa GLBT da UnB, disse: "Todos os dias as mulheres e outras minorias sofrem agressões na universidade. São agressões verbais, falta de segurança e assédios por parte de professores e funcionários. Todas as minorias, aqui, estão vulneráveis e expostas".Desconheço a realidade da Unb, mas essa realidade não se restringe à Brasilia, mas a todo Brasil.
O quero ressaltar é como os discursos em defesa das mulheres às vezes são instaveis e carecem de mais unidade, conhecimento e coerencia.Não consigo enxergar nesse tumulto o MACHISMO que os estudantes vêem.Talvez, tenha havido sim um certo machismo, mas, o que mais vi nessa situação, em letras garrafais foi FALSO MORALISMO e HISTERIA COLETIVA dos estudantes e dos professores que não eram todos homens, mas também mulheres.
A contradição que vejo nesse protesto dos estudantes da unb que vêem machismo nessa situação é a seguinte: a luta das mulheres nesse novo século não é tirar o apelo sexual que, por anos, tem sido a imagem negativa na sua luta por igualdade de direitos? A nova mulher quer espaço por inteligência, por capacidade, por mérito.A beleza e a vaidade, nesse novo contexto feminino, estão restritas à vida pessoal e não profissional ou academica.É isso ou estou enganado?
Logo, houve uma "lição" de "moral" por parte dos estudantes e professores daquela instituição, mas foi uma "lição" imunda, falsa, desumana e infantil.A histeria coletiva que houve se assemelha aos momentos de cremação das bruxas na idade média.Os estudantes que gritavam ali, apenas gritavam sem saber por que, alguns literalmente sem saber por que, apenas ouviam os outros gritarem, e involuindo várias gerações imitavam como primatas, sem pensar, sem procurar saber o motivo, cedendo a um instinto coletivo de caça.

sábado, 7 de novembro de 2009

Ode to music and 1967' - parte 1

Em algum lugar nas salas de administração cósmica desse planeta, os deputados-deuses votaram a favor de uma concentração intensa de talento artístico em um ano específico: 1967.
A providência administrativa se encarregou de gerar alguns inviduos distintos como Jimmy, Janis, Jim, Paul, George, Syd, Robert, Syd, Arthur, Martin, Bob, Jerry, Brian, Eric, Jeff, Jimmy e se certificou de ajudá-los a se tornarem Hendrix, Joplin, Jim Morrison, McCartney, Harrison, Wyatt, Barret, Lee, Balin, Dylan, Garcia, Jones, Clapton, Beck, Page, para citar alguns.
Esses individuos foram cuidadosamente gerados para florescerem na década de 1960 e se desenvolveram, se influenciarem, se turvarem, se libertarem e nos libertarem de um sono longo dominado por um sonabulismo preso a um automatismo decorrente de um sistema de produção rotineiro e consumista que estripa nossa humanidade, nos reduzindo a numeros.
Em um momento sem sentido da nossa humanidade, esses seres acima citados, em meio as pessoas em quem encontravam ressonancia, alcançaram níveis extraordinários de compreensão do sentido da arte. Eles compreenderam que arte não é feita por uma pessoa para outras.
Não! a criação artistíca é gerado da seguinte forma: em um meio social qualquer se desenvolvem relações, construções morais, regras, leis, paradigmas, líderes.Dentro de toda essa estrutura formada, surgem pessoas que irão romper com tudo isso, ir além, anunciar, ver mais, ouvir melhor, escreverem, repetir tudo de forma diferente.Essas pessoas são aqueles a quem chamam de artistas.Mas não são apenas estes os agentes transformadores, há também as pessoas que estão em meio a esses artistas, que o geraram, que o influenciaram, que servem de alimento e de inspiração, que dão sopro de vida às suas obras.Nesse caso, falo de música, a que tem mais efeito sobre nossas vidas, as que nos imitam melhor, por que imitam nossas emoções, imitam nossos movimentos cardicos, motoros, psicologicos, imitam no nossa alma.Tudo isso intensificado pelo meio de propagação que lhe é peculiar e único: a audição.O sentido que temos menos controle, que menos conhecemos, que nos é mais nebuloso.
O som, a música, o rock, a psicodelia, tudo isso junto e misturado...(continua)